Penas que ficaram

Quando em meu mudo e doce pensamento

chamo à lembrança as coisas que passaram

choro o que em vão busquei e me sustento

gastando o tempo em penas que ficaram.

E afogo os olhos (pouco afins ao pranto)

por amigos que a morte em treva esconde

e choro a dor de amar cerrada há tanto

e a visão que se foi e não responde.

E então me enlutam lutos já passados,

me falam desventura e desventura,

lamentos tristemente lamentados.

Pago o que já paguei e com usura.

Mas basta em ti pensar, amigo, e assim

têm cura as perdas e as tristezas fim.


Soneto 30 - William Shakespeare | Tradução Vasco Graça Moura

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